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Tempo, o verdadeiro artigo de luxo

  • andredangelodomini
  • 1 de ago. de 2017
  • 2 min de leitura

Atualizado: 14 de nov. de 2023

Você já deve ter visto a cena, nem que seja num filme. Um funcionário com muito tempo de empresa é homenageado por chefes e colegas no dia de sua aposentadoria.Ganha uma placa comum agradecimento por sua intensa dedicação à companhia e, de presente,um relógio.

Ora, por que justo um relógio,se dali em diante não precisará mais contar as horas para saber quando entrar, sair, almoçar ou ir ao banheiro?

Presentear trabalhadores que se retiram da labuta com relógios tornou-se um costume depois da Revolução Industrial. O objeto representa a devolução do domínio do tempo ao indivíduo, até ali sob controle da fábrica e do escritório. Aposentar-se significa, desde então,ter enfim o tempo de volta, esse recurso tão escasso quanto valioso, especialmente nos dias de hoje.

Escasso e valioso a ponto de merecer gerenciamento zeloso,semelhante àquele que destinamos a nossas contas bancárias. Afinal, tempo e dinheiro são moedas de troca e abrir mão de um pode significar ganhar mais do outro. A questão é qual deles priorizar.

Nossa época vê crescer um grupo de pessoas que, no dilema tempo--dinheiro, opta pelo primeiro. São indivíduos que não deixam de se sentir atraídos pelo que de mais moderno e bonito o universo do consumo tem a oferecer, mas, sabedores de que levantar os recursos necessários para satisfazer todos os seus caprichos materiais exigiria muitas horas e grande esforço, preferem dedicá-los a atividades que julgam mais prazerosas e recompensadoras. Optam por ter o relógio como aliado,e não como inimigo.

Aliado para quê? Para dar vazão a hobbies adormecidos. Para a leitura, a música e o cinema. Para se dedicar aos outros, voluntariamente. Para a prática das artes e dos esportes. E para viajar, claro.

Viagens são, por sinal, a melhor representação da diferença entre as sensações positivas que objetos e experiências podem oferecer. Os primeiros, sejam lá quais forem,nos proporcionam satisfação intensa logo depois de adquiridos. Satisfação que vai caindo paulatinamente com o passar dos dias, aponto de aproximar-se de zero tão logo se incorpore à nossa paisagem diária.

Já as experiências, como viagens,cursos, shows, exposições e festas, são diferentes. Proporcionam, sim, prazer na hora em que ocorrem, mas continuam oferecendo-o, a conta-gotas, toda a vez que as relembramos. Não são estáticas; formam memórias que permitem lembranças diferente sem momentos diferentes, pois os detalhes do que foi vivido vão e vêm ao sabor de nossas caprichos as conexões neuronais.

Daí a urgência do tempo, tido hoje por muita gente como o verdadeiro luxo. Só tendo-o a nosso dispor podemos aproveitar todas as oportunidades que uma vida é capaz de oferecer. Apropriar-se dele novamente apenas ao final de uma exitosa e extensa carreira parece mais com a libertação de um ente querido após um longo sequestro do que com uma verdadeira recompensa merecida. Pois, como já ensinava José Saramago, se não convém ter pressa, perder tempo, menos ainda.

Artigo originalmente publicado na Revista Live - Hotéis de Luxo Brasil, nº 01.



© 2017 André D'Angelo - Criado pela Balz Comunicação.

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